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terça-feira, janeiro 06, 2004

As estórias das sagas SSA-RJ, RJ-SP e SP-RJ, além das bebedeiras nas tardes e noites cariocas eu conto depois ...

depois que diminuir a dor da saudade ...
"Vivemos num mundo onde precisamos nos esconder pra fazer amor.

Enquanto a violência é paticada em plena luz do dia."

Lennon
Ter ou não ter namorado (fragmentos)

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrimas, nuvens, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.

Mas namorado, namorado mesmo, é muito difícil.

Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira; basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. (...)

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria e drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pactos com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinicius de Moares ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; da ânsia enorme de viajar para a Escócia de avião ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra junto.

Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não descobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show de Milton Nascimento, bosques, ruas de sonho ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu amado ser paquerado.

Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.

Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.

Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos. (...)

(...)

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

(...)

Carlos Drummond de Andrade
(atribuído em e-mail)

Amigos (fragmentos)

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
(...)

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! (...)

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.

Vinícius de Moraes
(atribuído em e-mail)

Ano novo, vida nova!

Ou deveria ser, Ano novo, vida nova?

Engraçado como temos sempre a mania de escolher algum evento para ser marco inicial de uma gigantesca mudança em nós mesmos.

Pode ser uma comemoração de data marcada; “esse ano vou ser mais gentil!”, ou então “esse ano quero perder peso, vou achar meu grande amor e ganhar muito dinheiro!”; essas são clássicas em todas as viradas de ano.

Adoramos escolher também um dia comum, normalmente a tão odiada segunda-feira; “amanhã começo o meu regime”, ou então “vou arrumar o meu armário e jogar fora tudo que não serve mais”. Um dia inteiro tirando as coisas de dentro do armário termina no máximo com gavetas arrumadas, uma pilha de roupas pra lavar (aquelas que estão cheirando a mofo e as amareladas) e duas ou três camisas que não servem mais, já que as promessas do ano novo não foram cumpridas ...

Existem ainda aqueles que resolvem escolher uma hora qualquer do dia; “hoje, depois do almoço, vou começar a estudar”. Mas sempre tem aquele cochilo depois do almoço, e lá se foi a hora marcada ...

Todo ano é a mesma coisa, a história é sempre a mesma. Parece um disco riscado.

Alguns anos atrás deixei de fazer promessas no ano novo. Dizia que já tinha muitas não-cumpridas acumuladas dos anos anteriores, que não fazia sentido criar novas.

Pensando a respeito, cheguei a uma conclusão: essas mudanças com data e hora marcada não acontecem.

Na virada deste ano, não fiz promessas não por que não quero mudar nada ou por que já tenho muitas acumuladas; não as fiz, pois comecei a mudar a algum tempo atrás, talvez no momento em que percebi algumas das minhas virtudes.

Digo virtudes pois acredito que existem as boas e as más. Ser carinhoso é uma virtude boa; ser preguiçoso é uma virtude má.

Para se enxergar as virtudes não existe hora marcada. Você pode percebê-las se ficar quieto, pensando sobre você mesmo; podem ser reveladas numa conversa a dois; e podem também ser vistas num momento trivial, andando de ônibus ou batendo papo com os amigos.

Se para enxergar não tem hora marcada, imagine para começar a mudar!

Não é de uma hora pra outra que mudamos as coisas. Não é na virada convencionada de um relógio que se deixa de ser beberrão e sedentário para virar tri-atleta; que sai de cena o insensível e indiferente para dar lugar ao carinhoso, amoroso e atencioso.
Mudar leva tempo. Na maioria das vezes muito tempo.

Mas a mudança não acontece só com o que achamos ruim em nós. Pode também acontecer para melhorar ou aprimorar o que vemos como bom.

Também não significa que temos que mudar o que é visto como ruim. Se não incomoda, pode ser que faça parte de quem você realmente é.

Todo esse raciocínio é só pra tentar fazer uma relação entre o ano novo e mudanças pessoais... e dizer que pra mim, a virada do ano já aconteceu a muito tempo, e até mesmo algumas vezes.

Não foi na virada que surgiu a vontade de mudança; não foi na virada que mudou a minha vida ...

Hoje não marco as mudanças no calendário. Marco nas experiências, nas emoções ...

A virada de ano agora é só mais uma festa comum para todos. Não chega perto da importância ou o prazer de se tomar uma cerveja com bons e verdadeiros amigos ou de assistir a um filme agarradinho com a amada.

Ou até mesmo do prazer de sentar, refletir e escrever sobre o que se pensa, para que todos os que importam possam saber ...

“A maneira como você encara a vida faz TODA a diferença.”
“O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de próprios pensamentos.”
"Os tristes acham que o vento geme; os alegres, acham que ele canta".

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